'Agora sim escuto minha voz', diz Milton Nascimento ao relançar CD |
Foi ouvindo a reedição do álbum Elis & Tom, lançado pela gravadora Trama, que Milton Nascimento resolveu atender a um pedido antigo do seu público e relançar os dois álbuns do Clube da Esquina.
"Todo mundo me falava sobre como era difícil achar o disco, e quando vi o trabalho do João Marcello Bôscoli, presidente da gravadora e filho de Elis, percebi que só relançaria com ele". Assim foi feito, e os dois discos foram transformados em três CDs, lançados pela EMI-Odeon com processo de restauração conduzido por Bôscoli.
Os arranjos originais foram mantidos e os álbuns, remasterizados, com eliminação de ruídos e melhora na qualidade do som. "Parece que agora sim escuto minha voz", comemora Milton, que descarta o lançamento de um novo álbum do Clube ou show de reencontro. "O Clube da Esquina está encerrado, os dois discos que lançamos foram definitivos", argumenta.
Da caipirinha, o Clube da Esquina
O Clube da Esquina nunca existiu como instituição formal e surgiu da amizade do compositor com os irmãos Borges na Belo Horizonte dos anos 60. Se em princípio enturmou-se com os mais velhos, foi com o pequeno Lô, à época com 10 anos, que Milton fez a parceria que resultou no primeiro disco do Clube da Esquina, gravado em 1972 no Rio.
"Eu convidei o Lô para ir a um botequim para ele tomar um refrigerante e ele pediu uma caipirinha de limão. Fiquei olhando, desaprovador, e pensando: 'está grandinho o Lô'. Foi a primeira vez que não o vi como criança. Ele disse que queria mostrar alguns trabalhos e a partir daí não paramos mais", conta Milton.
Foi deste encontro que nasceu a música Clube da Esquina. À dupla, reuniram-se ainda nomes como Beto Guedes, Wagner Tiso e Márcio Borges, irmão de Lô. O nome foi idéia deste, de tanto ouvir a mesma resposta dada à sua mãe quando perguntava dos filhos: "Estão lá na esquina, cantando e tocando violão."
O primeiro trabalho do Clube da Esquina rendeu a Milton Nascimento um convite para gravar com o saxofonista Wayne Shorter. O álbum também consta do livro coordenado pelo crítico inglês Robert Dimery, 1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer, e recebeu elogios de diversos músicos, embora tenha sido criticado pela imprensa em seu lançamento.
Relacionamento delicado
A relação com a mídia, aliás, sempre foi um tema controverso para o compositor. "Fui alvo de muita falta de respeito pela imprensa, em diversas épocas. Saber que o Clube da Esquina é o disco de cabeceira de pessoas do mundo inteiro é uma benção de Deus e um cala a boca para quem fala besteira", afirma.
O segundo álbum só seria lançado em 1978. "Nem sabia que o Lô estava no Rio e quando o encontrei ele estava sentado no chão com um violão, compondo. Eu já cheguei dizendo: 'chega de preguiça, está na hora de trabalharmos de novo', e assim começamos mais um disco, que era na verdade uma grande reunião de amigos".
Milton voltaria a se sentir desrespeitado pela imprensa em 1996, quando recebeu o diagnóstico de diabetes e precisou tomar um remédio que causou-lhe anorexia. Ao emagrecer rapidamente, ele se viu cercado de boatos de que estaria com aids.
Mais de dez anos depois, o episódio parece ter deixado cicatrizes. "Aquilo tudo abalou muito minha família e meus amigos, pessoas que gostam de mim e sofreram muito. O caso acabou se tornando uma batalha entre os médicos que me trataram e outros que nem me conheciam e afirmaram coisas que não eram verdade. Meus médicos resolveram não processar. Eu, no entanto, não sei se teria perdoado", afirma.
Futuro e música brasileira
É ao falar dos novos projetos, porém, que se percebe a empolgação em sua voz. O compositor se prepara para lançar pelo seu próprio selo, o Nascimento, trabalhos de cantores como a mineira Marina Machado, sua parceira em quatro músicas no disco Pietá e o jovem sambista Pedrinho do Cavaco.
"Não gosto quando dizem que a música brasileira vai mal. Existem ótimos músicos na nova geração, e essa renovação me faz muito feliz", finaliza.
Fonte: Terra|por Flávia Faccini
"Todo mundo me falava sobre como era difícil achar o disco, e quando vi o trabalho do João Marcello Bôscoli, presidente da gravadora e filho de Elis, percebi que só relançaria com ele". Assim foi feito, e os dois discos foram transformados em três CDs, lançados pela EMI-Odeon com processo de restauração conduzido por Bôscoli.
Os arranjos originais foram mantidos e os álbuns, remasterizados, com eliminação de ruídos e melhora na qualidade do som. "Parece que agora sim escuto minha voz", comemora Milton, que descarta o lançamento de um novo álbum do Clube ou show de reencontro. "O Clube da Esquina está encerrado, os dois discos que lançamos foram definitivos", argumenta.
Da caipirinha, o Clube da Esquina
O Clube da Esquina nunca existiu como instituição formal e surgiu da amizade do compositor com os irmãos Borges na Belo Horizonte dos anos 60. Se em princípio enturmou-se com os mais velhos, foi com o pequeno Lô, à época com 10 anos, que Milton fez a parceria que resultou no primeiro disco do Clube da Esquina, gravado em 1972 no Rio.
"Eu convidei o Lô para ir a um botequim para ele tomar um refrigerante e ele pediu uma caipirinha de limão. Fiquei olhando, desaprovador, e pensando: 'está grandinho o Lô'. Foi a primeira vez que não o vi como criança. Ele disse que queria mostrar alguns trabalhos e a partir daí não paramos mais", conta Milton.
Foi deste encontro que nasceu a música Clube da Esquina. À dupla, reuniram-se ainda nomes como Beto Guedes, Wagner Tiso e Márcio Borges, irmão de Lô. O nome foi idéia deste, de tanto ouvir a mesma resposta dada à sua mãe quando perguntava dos filhos: "Estão lá na esquina, cantando e tocando violão."
O primeiro trabalho do Clube da Esquina rendeu a Milton Nascimento um convite para gravar com o saxofonista Wayne Shorter. O álbum também consta do livro coordenado pelo crítico inglês Robert Dimery, 1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer, e recebeu elogios de diversos músicos, embora tenha sido criticado pela imprensa em seu lançamento.
Relacionamento delicado
A relação com a mídia, aliás, sempre foi um tema controverso para o compositor. "Fui alvo de muita falta de respeito pela imprensa, em diversas épocas. Saber que o Clube da Esquina é o disco de cabeceira de pessoas do mundo inteiro é uma benção de Deus e um cala a boca para quem fala besteira", afirma.
O segundo álbum só seria lançado em 1978. "Nem sabia que o Lô estava no Rio e quando o encontrei ele estava sentado no chão com um violão, compondo. Eu já cheguei dizendo: 'chega de preguiça, está na hora de trabalharmos de novo', e assim começamos mais um disco, que era na verdade uma grande reunião de amigos".
Milton voltaria a se sentir desrespeitado pela imprensa em 1996, quando recebeu o diagnóstico de diabetes e precisou tomar um remédio que causou-lhe anorexia. Ao emagrecer rapidamente, ele se viu cercado de boatos de que estaria com aids.
Mais de dez anos depois, o episódio parece ter deixado cicatrizes. "Aquilo tudo abalou muito minha família e meus amigos, pessoas que gostam de mim e sofreram muito. O caso acabou se tornando uma batalha entre os médicos que me trataram e outros que nem me conheciam e afirmaram coisas que não eram verdade. Meus médicos resolveram não processar. Eu, no entanto, não sei se teria perdoado", afirma.
Futuro e música brasileira
É ao falar dos novos projetos, porém, que se percebe a empolgação em sua voz. O compositor se prepara para lançar pelo seu próprio selo, o Nascimento, trabalhos de cantores como a mineira Marina Machado, sua parceira em quatro músicas no disco Pietá e o jovem sambista Pedrinho do Cavaco.
"Não gosto quando dizem que a música brasileira vai mal. Existem ótimos músicos na nova geração, e essa renovação me faz muito feliz", finaliza.
Fonte: Terra|por Flávia Faccini