Jornalista carioca Silvio Essinger assina livro de 300 páginas lançado pela Agir.'Era um estranho filme de ficção científica acontecendo', resume o autor.

A trilha sonora não poderia ser mais eclética: enquanto um grupo de amigos auto-intitulados “caranguejos com cérebro” iniciava um movimento que ficou conhecido como mangue beat (ou mangue bit - de bit de computador), as rádios e programas de TV ecoavam Planet Hemp, É o Tchan, Mamonas Assassinas, rock grunge, pagode romântico, pop sertanejo e um sem número de outros gêneros. Essa verdadeira salada musical foi pano de fundo para a cultura pop na década de 90, alavancada principalmente pela popularização da internet.

“O fim da censura, a estabilidade econômica, a evolução tecnológica ajudaram a moldar um admirável - e por vezes assustador - mundo novo nos 90. Nem ‘Jetsons’, nem ‘Blade Runner’. Era um estranho filme de ficção científica acontecendo”, resume o jornalista carioca Silvio Essinger, autor do “Almanaque anos 90”, lançado agora pela editora Agir.

Veja alguns dos principais ícones dos anos 90

Autor dos livros “Punk: Anarquia planetária e a cena brasileira” e “Batidão: Uma história do funk”, Essinger viveu a década entre seus 19 e 29 anos. “Não sei se foi por causa dessa perspectiva, mas os 80 me pareceram tão somente um trailer dos 90. A música, a TV, o cinema, tudo veio mais forte, ferino, realista que nos 80. As misturas, as piadas, a violência, o sexo, os efeitos especiais - tudo que a gente julgava impossível de repente estava ali na cara”, diz.

Dividido em sete capítulos - música, TV, cinema, comportamento, moda, consumo e esportes - o livro faz um saboroso apanhado de lembranças e curiosidades. Não à toa, a seção dedicada à música é forte candidata a despertar um especial interesse no leitor. “Esse foi o meu posto de observação dos 90, a área que eu cobri como jornalista naqueles tempos e também algo que se desenvolveu muito ao longo do período”, diz Essinger.

“Lá por volta de 1997, por exemplo, o Brasil chegou a ser o sexto maior mercado de discos do mundo - imagina a força que a música teve nesse país nos 90! Além disso, não dá para esquecer coisas como o fascínio despertado pela primeira audição do ‘Nevermind’... Só isso dava um livro!”, diz o autor, que levou dois anos até finalizar a obra.

Segundo ele, alguns itens ficaram de fora por pura falta de espaço. “Do Tiririca ao ‘Ultimate Fighting’, tem muita coisa que eu limei por falta de jeito para incorporar aos capítulos do livro - e depois fiquei lamentando. Mas sabe como é que é livro, né?”

Ser brega virou cool

Curiosamente, a década passada não carrega a pecha de “cafona” dos anos 80. Por que será? “Nos anos 90, ser brega deixou de ser brega”, opina Essinger. “Os rejeitados culturais ganharam um salvo-conduto e passaram a ser divertidos, cult. De uma hora pra outra, começou a ser legal ouvir Gretchen, Sidney Magal, Odair José, Reginaldo Rossi... Rolou até um revival da Discoteca do Chacrinha.”

“E por falar em revival, é bom lembrar que esse negócio de festejar os anos 80 colocando Dominó e Legião Urbana no mesmo saco começou ali, nos 90”, diz. “O pessoal perdeu a vergonha de assumir que gostava dos cafonas, dos descartáveis, e até arrumou um jeito de curtir aquelas músicas, aqueles programas de TV sem que ninguém pudesse criticar.”

“O segredo? Adotar uma postura irônica, típica dos 90, dando risada daquilo tudo, quando na verdade o brega morava fundo em seu coração e o comovia tanto quanto um poema de Vinicius!”, diverte-se o autor, ávido por listar alguns ícones indispensáveis dos anos 2000.

O que não poderia faltar em um almanaque dos 00 de jeito nenhum? “O 11 de setembro, o BBB, a chapinha japonesa, a Mulher Melancia, Kaká, RBD, Paris Hilton, o Orkut... Mal posso esperar!”
Fonte:G1